segunda-feira, 31 de maio de 2010

Ao infinito...

Para quem não sabe, hoje, 31 de maio, é o Dia Internacional do Comissário de Voo; para quem sabe... também.
Como não poderia deixar de ser, uma vez que é essa a profissão que escolhi a título de "efetiva" depois de desistir da que escolhi a título de "curso superior" ou "para inglês ver", como queiram, gastei alguns minutinhos do meu tempo escrevendo esta homenagem, que é auto mas também é alheia, para os demais malucos que compartilham minha escolha.

PARABÉNS a todos nós que, por algum motivo obscuro, escolhemos estar eternamente entre uma cidade e outra, sem feriados ou finais de semana, sem nunca saber onde vamos passar a noite, sem ter certeza sobre a que horas vamos dormir ou acordar, servindo seres humanos estranhos e complexados, recolhendo saquinhos de vômito, arrancando pessoas de banheiros, acalmando passageiros enlouquecidos, oferecendo balinhas a infantes chatos, cuidadosamente tomando bagagens de mão de pessoas que insistem em permanecer com elas na mão e enfiando-as delicadamente no bagageiro (as bagagens, não as pessoas), convivendo com colegas de trabalho diferentes a cada dia, lidando com condições meteorológicas completamente díspares em um mesmo dia, sorrindo para os demais enquanto a aeronave chacoalha feito um liquidificador em curtocircuito e enquanto controlamos o instinto de agarrar um terço e rezar fervorosamente uma novena para Nossa Senhora da Turbulência (ainda que não sejamos católicos), demonstrando como utilizar os equipamentos de emergência e torcendo para não precisarmos deles, olhando aquela grávida que visivelmente está prestes a dar à luz e implorando ao céu para que ela não exploda a bordo, confiando nossas vidas a pilotos que mal conhecemos e a computadores de bordo passíveis de falha, tendo que responder educadamente a cada vez que perguntam se não temos medo de morrer em uma queda, despressurização ou qualquer outra possível adversidade (como se alguém morresse fora de sua hora) e ainda por cima achando tudo isso lindo demais da conta e fazendo com o maior prazer do mundo!

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Wings

I've been having problems with time. I've been having problems with time, clothes and dreams.
Even with so many people around me, I sleep every night trying to solve troubles I don't have, about things I don't live, for someone I don't know, but who is in my mind all the time.
I've forgetting how to choose my clothes at the morning, I've been trying to be always awesome, as if someday someone could come and see.
I've been living everyday, thinking of places I've never visited, roads I've never passed by, voices I've never heard at all.
I worry about fights I can't avoid, answers I can't give, words I can't say, touchs I can't feel, smells I can't breath, hugs I can't enjoy, bottles I can't open with liquids I can't drink.
It's hard, but it seems to be the kind of headache we like to feel.
I don't know why, but it's something that makes me feel fine.
And, when I'm dreaming, I've been always flying in the sky, over the sea, trying to find something, looking for a way to come closer. There're only two hours everynight to get there and it's far away. That's why sometimes I don't find nothing when I arrive. There's always a song to dance and I wake up singing it, living it, breathing it, feeling it.
Come closer... can you feel with me?

(Original version in English, cause the words just jumped into my mind in English. But it must be easy to find errors so, please, ignore them. And a song of Elvis that's jumping into my mind since many days ago).

terça-feira, 25 de maio de 2010

Andando

Eu continuo andando com cuidado.
Se o que vale mesmo não são as minhas pegadas no chão, mas as que deixei nos outros, se é assim mesmo que as coisas são, eu ainda acho que é possível pisar mais suave.
Porque eu me lembro que os caminhos que trilho nos outros não são de asfalto nem possuem sinalização. Porque sou eu que escolho esses caminhos, e escolho sempre os mais bonitos - normalmente algum que passe pelas nuvens, só que nuvens furam fácil, e despencar uns dois quilômetros nunca é muito indicado.
Por isso é que caminho na ponta dos pés quando chego de madrugada; e vou testando a consistência a cada passo. Mas às vezes me distraio vendo alguém que passa por mim e vai em outra direção... quando é assim fico olhando, pesando o impacto dos passos dos outros e acabo esquecendo dos meus. É sempre aí que eu tropeço, ou pior, a nuvem fura e eu penso Burra! mas só dá pra esperar chegar no chão. Às vezes dói, às vezes caio em pé e aí é só começar de novo. Problema mesmo é quando faz barulho e acorda todo mundo.
Fica uma confusão de lascar, começam a procurar o culpado, não tenho muita escolha: ou eu me acuso ou saio assobiando pela porta dos fundos, fazendo de conta que não é comigo. Nunca sei o que é pior.
Se eu confessar que fui eu podem me chutar pra fora, porque ali ninguém quer uma irresponsável distraída que tropeça nos próprios pés e fica incomodando os demais - ou não. Já houve vezes de gostarem do agito e me convidarem pra ficar, mas como eu prefiro andar no silêncio depois acabo indo embora; se eu me misturo à multidão e vou embora sem que vejam, parece que gastei um tempão andando na direção de uma miragem, já que ninguém reparou.
As pessoas também andam em mim. Nem todas pensam como eu. Alguns caminhos aqui são bem estranhos e eu aviso, pode ser que ouçam ou, com sorte, pode ser que não. Tem gente que encontra gente e daí resolve andar por mim acompanhado. Eu gosto. Gosto de ser labirinto, de sentir os passos dos outros, de às vezes me sentir um abismo e ver alguém despencando, gosto de ouvir as conversas dos que se encontram em mim e dos que encontram outros em mim. Mas gosto principalmente de ser caminho para os outros. Caminho para passos tortos, suaves ou atrapalhados, e que deixem pegadas.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Aquele

Sabe, meus cremes têm um propósito. Eu não sou do tipo que sai por aí gastando o que não tem pra se sentir mais bonita. Há, sim, aquele cara de quem eu quero chamar a atenção. Ele existe, anda por aí, tem nome e sobrenome, tem lá seus medos e suas caraminholas, tem lá seu RG, sua cama e seu par de tênis preferido.
Ele finge que não percebe, mas sabe quando tropeça nas minhas cenas. Ele se atrapalha com as minhas palavras; e com as dele. Ele cai nos meus joguinhos, mesmo conhecendo todos eles.
Ele fala demais, às vezes. Às vezes fala sem pensar, às vezes pensa demais pra falar, às vezes cala demais.
Ele só não entende.
Não entende nada de mim, nada do que eu digo. Acho que ele nem ouve! Acho que ele me olha e pensa que me vê. Acho que ele finge que olha, pra não ficar chato. Às vezes ele até me beija no meio da frase, pra provar que não me ouviu.
A gente conversa, a gente ri, às vezes a gente chora. Às vezes ele vai comigo ao cinema e nem sabe, às vezes ele dorme do meu lado e não sente. Mas eu perdoo, porque sei que às vezes sou eu que faço assim.
Tem dias que ele some - deve ter dias que eu sumo também - e tem dias que não sai daqui! Fica aqui falando o dia todo, me sacudindo, mordendo minha orelha, não cala a boca, não para quieto, não vai embora.
No fim do dia ele me abraça e me deseja boa noite. Às vezes ele vai, às vezes fica me vendo dormir. Às vezes me acorda no meio da noite, pra tomar água com ele, deve ter medo do escuro. É que ele fica meio à sombra de tudo. Nunca aprendeu a sair de lá, ninguém nunca ensinou, o que dá um pouco de trabalho, porque nem sempre dá pra enxergar que ele está lá. Só de vez em quando é que ele se ilumina. Gosto tanto!
Se ele soubesse o quanto eu gosto, acho que faria mais vezes. Talvez eu devesse contar pra ele... como se adiantasse. Ele vai colocar o dedo no ouvido e gritar mais alto do que eu falo, igual criança. Ele sempre faz dessas. Acho graça, mas se eu der risada ele se irrita.
Eu também me irrito. Com essa mania de nunca estar quando eu preciso e se eu falo ele responde depois ignora. Com essa presença sem fim da sombra dele nos meus passos. Com essa ausência infinita que ele causa aqui, quando sai. Com as risadas dele no meio da noite, quando ele volta. Com a minha maldita mania de ficar queimando cérebro e de falar sozinha e deixar todo mundo achando que eu fiquei maluca de vez. Até ele. E de querer mostrar pra todo mundo que eu sou minha melhor companhia. E de ficar enchendo a cabeça dele com os meus conselhos e as minhas convicções, pra ele achar que eu sou assim mesmo, essa certeza inteirinha, que chega a doer igual soco no estômago. Eu me irrito com a minha mania de fazer meu sorriso parecer fácil demais, e fingir que estar no controle é moleza pra mim. Com a minha mania de sorrir pra ele e dizer que tudo vai ficar bem e que vamos sobreviver.
Porque eu sei que não vamos, sei lá... tem jeito não, de sobreviver assim. Porque não dá pra ficar junto. É um desacerto, é um desencontro, é um desespero e ninguém cede de lado nenhum. Nem nunca vai. E não dá pra ignorar, então fica confuso.
Ninguém sobrevive, eu sei. Mas tenho que fazer de conta que não sei. Quer dizer, não tenho não, ele que se vire com o abismo que ficar depois.
Ele que se vire com o meu cheiro e as minhas palavras decoradas, ele que se vire com o eco de risada que ficar na sala, ele que se vire pra arrumar a bagunça que sobrar depois.
E eu que dê conta também, de aguentar os olhos dele em cima de mim, de correr sozinha pra um lugar que eu não conheço, de dar um fim nos meus cremes e aprender a me arrumar só pra me sentir mais bonita, de arrumar outra pessoa pra me acordar no meio da noite.
Já que é assim mesmo, melhor isso. Ele lá e eu aqui, se amando de longe. Aliás, se amando só porque é de longe. E fazendo de conta que vamos sobreviver, mas cada um por sua conta. Não dá mesmo pra confiar em mim.

Eu

Sabe quando você gosta tanto de algo que fez que quer enfiar goela abaixo de todo mundo?
Escrevi umas coisinhas sobre mim para colocar no perfil, mas ficou tão completo que não me controlei. Lá vai, a quem interessar possa.

Formada em algo que pretende não usar.
Ex-atriz, ex-tecladista, ex-aluna, ex-paciente, ex-namorada, ex-fã, ex-exemplo, ex-conservadora, ex-católica, ex-trema.
Projeto de poliglota, tentativa de blogueira, quase comissária, pretendente a milionária, nunca quis ser gente grande, não quer arrumar marido e tem mania de corrigir os outros.
Viciada em Coca-Cola, viagens, Mc Donalds, chocolate e solidão.
Sagitariana típica, um desastre, um exagero, um drama só, uma encrenca sem fim.
Não liga pro que os outros pensam, não quer saber os motivos, não tem paciência.
Mas quando gosta, gosta inteira!

terça-feira, 4 de maio de 2010

Interior

Porque todo mundo deveria regar outros jardins, de vez em quando. Talvez dar uma olhada nas sementes, colher uma ou outra muda para o próprio jardim, ajudar a cortar os galhos e as folhas que estão sobrando.
E se importar com o que os outros estão tentando dizer, ainda que não valha a pena.
E porque, na maioria das vezes, o que todo mundo quer é companhia pra ir ao cinema, ninguém liga pro filme que vai passar, nem se há mais alguém interessado na história.
Daí fica esse caos - e todo mundo faz de conta que é legal ver filme denso pra não perder o costume de querer ser o que não é. E todo mundo finge que prefere o filme legendado, e que entende cada palavra do que estão dizendo, quando na verdade a maioria só ri do que os outros riem também.
E todo mundo vai ao cinema acompanhado, mas sai de lá desnorteado... e não há quem consiga ajudar.
E todo mundo tenta ver na história a sua própria, modificada, romanceada e com final feliz.
Todo mundo olha no espelho tentando enxergar coisas que não estão ali.
Todo mundo faz de conta que é legal ver filme denso mas, às vezes, tudo que a gente precisa é de uma comédia besta.

*1 - Livremente inspirado pelas palavras da Su, mestra no assunto, que pode ser conferida bem aqui.
*2 - Dedicado à Paula, minha querida amiga desconhecida, que sabe muito bem ler pessoas e que se parece tanto comigo. (Por curiosidade depois do seu comentário, fui xeretar seus textos antigos. Parece que sou eu falando, efetivamente). Ah, sim... e que se encontra aqui.