quarta-feira, 30 de junho de 2010

Preenchendo



A gente vive inventando. A gente inventa um jeito de tudo. A gente inventa um jeito de se superar. Inventa um jeito de encontrar o caminho certo. Inventa um jeito de usar aquela calça jeans um número menor. A gente se atrasa e inventa um atalho para ainda chegar na hora. A gente inventa desculpa. A gente inventa história, ou só aumenta um pouquinho aqui, diminui um pouquinho ali. A gente inventa de comprar um celular novo, uma blusa nova, uma casa nova, um cabelo novo, um peito novo. A gente inventa um jeito de ganhar dinheiro. Inventa um jeito de gastar dinheiro. A gente inventa uma nova mania de infância. Inventa uma viagem. Inventa um jeito de cozinhar mais rápido. Inventa um jeito de comer mais rápido. A gente inventa uma música pra lembrar alguma coisa e depois tenta inventar um jeito de esquecer o refrão daquela outra, porque ouvia com alguém que resolveu ir embora. A gente inventa uma dor pra não ter que ir trabalhar, pra não ter que sair de casa, pra não ter que assistir aula, pra não ter que discutir, pra não ter o que fazer o dia todo. A gente inventa remédios pro corpo e pra alma. Inventa que a partir de agora a gente só vai comer alface e rúcula, porque a gente inventou de achar uma gordurinha sobrando. Inventa que correr faz bem pro coração e que vai começar a correr todo dia. Inventa que chorar faz bem pra alma, mas que vai começar a não chorar tanto como antes porque chorar é coisa de gente fraca, gente forte come brigadeiro, rasga meia dúzia de fotos e fica tudo bem. A gente inventa pose, inventa personagens, inventa trejeitos, sotaques e atitudes. Inventa um a gente novo todo dia. Inventa moda. Inventa de gostar de determinado bar e determinada banda. A gente inventa um jeito novo de pentear o cabelo, um jeito novo de andar, um jeito novo de falar, um jeito novo de se vestir, um jeito novo de ser a gente. A gente inventa lembranças boas pra colocar no lugar das ruins e poder achar que vale a pena sofrer pelo que já foi. Ou inventa lembranças ruins pra colocar no lugar das boas e poder dizer que tomou a melhor decisão ao invés de admitir que o que decidiu foi a maior burrada. A gente inventa poesia, inventa amor, inventa amizade, inventa uma decoração diferente pro quarto, pra sala, pro banheiro. Inventa que precisa de um notebook, que precisa de um sapato, que precisa de um cinema, que precisa de uma companhia. A gente inventa companhia. Inventa de ligar pra qualquer um só pra não ter que ficar só. Inventa de dizer que ama só pra evitar explicações longas. Depois inventa que se enganou. A gente inventa uma religião pra seguir, um curso pra fazer, inventa que sabe o que quer da vida, inventa que entende do que está falando, inventa que sabe tudo de tudo. A gente inventa um choro, inventa um abraço, inventa de querer um beijo, inventa de querer comer aquela torta que só se encontra do outro lado da cidade, inventa um conselho pra alguém, inventa que sabe dar conselho, inventa um disfarce, inventa um sorriso de disfarce, um sorriso de deboche, um sorriso de indiferença, a gente inventa até uma gargalhada, se precisar. A gente inventa uma vontade louca e repentina de gritar, uma vontade louca e repentina de cantar, uma vontade louca e repentina de largar tudo e ir vender coco na praia. A gente inventa de ir pra praia, a gente inventa de voltar de lá, a gente inventa que precisa sair na sexta à noite, senão vai enlouquecer. A gente inventa que precisa beber, que precisa acelerar, que precisa se distrair, que precisa ser mais sincero, que precisa ter mais amigos, a gente inventa que precisa amar.
E, mesmo quando a gente não tem mais o que inventar, a gente ainda inventa cada uma!

A música cujo nome e intérprete eu finalmente descobri. So sweet!!!