quarta-feira, 15 de junho de 2011

Quase verdades

"Uma verdade dita com má intenção bate todas as mentiras que se possa inventar."
-William Blake

Eu minto mesmo. Muitas vezes sobre coisas pequenas; aumento uma frase, uma expressão, digo que disse algo que na verdade só pensei em dizer depois, invento uma situação, melhoro os fatos, torno as coisas mais divertidas do que foram.
Essas mentiras despropositais, e espontâneas tornam minha vida mais leve e minha história mais interessante. Eu fiz amizade com as minhas mentirinhas insuspeitas e convivemos bem assim, completando com imaginação as lacunas que as verdades deixam pra trás. Porque não existem meias verdades (maldito hífen que eu nunca mais soube onde usar). Verdades são concretas e inteiras, imutáveis. Já o que não aconteceu tem muitas caras, poderia ter sido de um zilhão de jeitos diferentes e isso, quando usado pela gente certa, é mais divertido que a verdade pura e simples. Mentir, no meu caso, é um ato de compulsão sem culpas, uma automação das coisas que eu tenho pra contar, que não prejudica ninguém e me ajuda a engolir minhas verdades sem precisar de tanto sal de fruta.
Mas eu também aprendi a mentir de um jeito mais fundo. Minto quando sei que a verdade não vale o sofrimento que vai causar. Minto pra proteger pessoas de verdades que nada acrescentariam às suas vidas, que vão trazer choro e desespero e, no fim, vão apenas virar uma ferida que não sara. Minto porque acho que o mundo precisa de um pouco de compaixão e as pessoas precisam de muita evolução, ainda, pra aprenderem a conviver com a verdade crua. Minto porque muitas vezes sei que a verdade não vai resolver problemas, ou porque sei que vai causá-los, ou porque acho que alguém só precisa de um abraço e alguém que diga que o universo não é tão feio quanto parece.
A verdade não aplaca o sofrimento, a verdade não melhora os fatos, a verdade não cura dor nenhuma, apenas mostra coisas que nem sempre estamos preparados para enxergar. A verdade, quando não é vital para determinado assunto, deve ser maquiada. Mentiras ditas com bom coração são quase verdades.
Eu minto mesmo. E não me acho merecedora do inferno por isso. Eu acho que ser uma boa pessoa também passa por saber mentir.