sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Presentes

Quando eu era mais nova, Papai Noel passava quietinho
e ficava um tempão
nas luzes,
nas cores,
na ansiedade,
nos presentes que trazia,
sem deixar que eu percebesse
que estivera ali.

De uns anos pra cá, ele vem fazendo cena,
passa rapidinho,
com pressa,
não deixa quase nada
e nem assim consegue se esconder.

Estar perto de quem amo tornou-se
o único motivo pro Natal continuar fazendo sentido.
Mesmo com todas as perdas, todo ano fica melhor,
mas acho que meu Papai Noel desaprendeu a dominar aquelas renas.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Pequenos frascos

Acontece que eu não sou bem um manual do usuário, com frases curtas e diretas.
Sou mais assim, um caça palavras, ou um glossário pelo avesso, explicando com termos técnicos e obscuros o vocabulário popular. E com um montão de entrelinhas.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Companhia

Durante algum tempo eu andei sozinha, tomando por companhia meus olhos, minha liberdade, minha vida e meus passos.
Durante algum tempo os dias se assemelhavam sem me levar mais fundo, deixando a sensação de não haver nada além disso.
Eu estava feliz, a vida era tranquila, os amigos estavam juntos todo o tempo, mas faltava alguma coisa desconhecida, alguma coisa que me havia sido negada, que eu havia esquecido em algum lugar ou alguma esquina, de cuja direção eu também me esquecera completamente. Mas eu procurava e esperava por ela todas as noites e todos os dias.
Até que, num deles, eu ainda dormia... e ela chegou.

domingo, 29 de novembro de 2009

Antítese

Aquele cara planejava cada passo, media seus gestos, construía seus caminhos com cuidado, calculava o tempo e o espaço, definia metas. Cumpria prazos, tomava suco no café da manhã, passava suas camisas, dedicava-se a tudo que fazia, acompanhava o noticiário, dava bons conselhos.
A moça não. Vivia os segundos que ali estavam e deixava tudo pra última hora. Dormia depois das quatro e acordava atrasada. Nunca tomava café, porque não dava tempo. Usava a primeira roupa que caísse da bagunça que ficava dentro do armário. Faltava à faculdade, lia o que lhe caísse nas mãos e não sabia nem o que fazer com sua própria vida.
Ele transmitia segurança, tranquilidade, uma felicidade calma e leve. Uma vontade de arrastar os minutos.
Ela era um caos completo. Uma alegria enorme e intensa. Uma pressa sem tamanho de experimentar tudo.
Era visto que, uma hora ou outra, eles iam se encontrar.
E é claro que não tinha chance de dar certo.
Mas quem é que ia querer tudo igual, sempre?

sábado, 28 de novembro de 2009

Caminhando

E foi com a leveza de sempre que ela encarou mais essa fase de sua vida: a fase em que as pessoas e acontecimentos esbarravam em sua pele e nela se infiltravam intensos, vorazes, inexatos.
À sua volta, o tempo corria, o clima mudava, mudava o céu.
Mas ela abria os braços e sentia o vento, e queimava no sol, e olhava o relógio, e contava o dinheiro, e andava com pressa, e atravessava as ruas, e penteava o cabelo.
À sua volta, o mundo girava, os rostos envelheciam e a saudade doía.
E ela, com a certeza bonita de quem quer o mundo, mas pode esperar, apenas sorria.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Sabão

Houve um momento em que a saudade foi tão grande
que engoliu tudo o que estava em volta.

Saudade bolha,
deixando tudo meio embaçado.

E ela percebeu que era hora de,
dentro da saudade de uma vida toda,

Inventar felicidades novas!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

A, B, C...

O que eu digo vai, devagar, começando a insinuar contornos ainda desconhecidos - mesmo para mim.
Não há pretensão nas linhas que escolho para preencher com pensamentos.
São só um monte de ideias soltas, palavras avulsas.
Não precisam (e nem pretendem) fazer sentido sozinhas.