terça-feira, 19 de abril de 2011

Quase amor

Eu admiro quem diz "te amo".
E não falo de amor de amigos ou família. Falo de amor desse besta mesmo.
Eu vivo dizendo "te amo" pros meus irmãos, meus pais, primos, tios, avós... falo assim mesmo, no meio do dia, sem motivo aparente, só pra lembrar que, embora a genética tenha me programado para isso, eu também amo por voluntariedade, porque construímos laços irrompíveis ao longo dos anos e acho isso uma coisa muito especial, muito digna e merecedora de lembretes sem motivo aparente.
Também digo "te amo" pros meus amigos com frequência, pra lembrar que, embora eu não tenha sido geneticamente programada para amá-los, algo mais forte que o parentesco sanguíneo nos uniu e isso também é uma coisa especial que merece ser destacada.
Mas admiro quem diz "te amo" pra pessoa que está ali ao lado, passando por coisas junto de você. Admiro porque eu não sei fazer.
Talvez porque o amor romântico seja muito idealizado como uma coisa que queima mesmo, e dói e enlouquece e tira o chão - e essas não são coisas que acontecem todo o tempo, pelo menos não comigo. Essas são coisas que costumavam me acontecer aos quinze anos, quando todo rostinho bonito que eu encontrava era o grande amor da minha vida.
Depois o mundo ficou feio, as pessoas deixaram de ser de confiança e o amor que eu sentia por cada nova possibilidade morreu. E eu fiquei assim, livre, esperta, decidida e profundamente atolada na desculpa de que o mundo não entende minhas boas intenções.
Acho mesmo incrível que alguém ainda consiga olhar nos olhos e dizer algo assim. Quem consegue entregar seu mundo com essa certeza, com essa pureza, com essa leveza, com essa graça, merece ser amado de volta. Quem consegue espalhar "estamos juntos" sem o medo de que amanhã um dos dois pode sumir e deixar o outro com todas as coisas pra arrumar sozinho, quem ainda consegue ser assim mesmo com essa loucura toda merece sentir amor.
Pra mim é complicado. Tenho pânico de gastar amor com coisas voláteis como são os relacionamentos. Tenho pânico dos finais e, por isso, sempre acabo eu mesma com tudo antes que acabem comigo. Eu estrago tudo sempre, pra me sentir mais completa e corajosa e capaz.
Mas nem é que eu não goste dele, veja bem... eu gosto muito de respirar bem atrás da sua orelha, onde ele nem ouve nem deixa de ouvir e onde o resto de perfume do dia se encontra com o pedaço de brinco e deixa um cheiro inteiro seu. Eu gosto de falar, falar, falar e depois ouvir seu "hm" como resposta, só pra cutucar sua perna dizendo "me dá atenção" e ver como ele ri. Eu gosto de ver seu desespero quando digo que vou fazer alguma coisa na cozinha e da maneira delicada com que ele rejeita a oferta, propondo-se a fazer ele mesmo. Eu gosto de ser sarcástica e ver como ele fica tentando acompanhar minha mente doente pra entender o que fez de errado dessa vez, mesmo quando sabe que não fez nada. Eu gosto do jeito que ele sorri, do jeito cuidadoso com que se veste, da atenção que dá ao aquário, ao bonsai, à colcha da cama.
Eu gosto de sentir sua mão na minha cintura pra eu sair do caminho. Eu gosto do pedaço de barriga que ele deixa aparecer quando deita. Eu gosto que ele pega na minha mão porque tá muito quente pra ficar abraçado. Eu gosto da sua mão. Eu gosto quando pergunto alguma coisa e ele move o mundo - e o Google - pra me responder minuciosamente. Eu gosto da paciência que ele tem pra me esperar escolher roupa e da pressa repentina que ele tem pra gente não perder o trem. Eu gosto de falar dele pra minha mãe, eu gosto de falar com a mãe dele. Eu gosto dos pais dele. Eu gosto do seu companheirismo, da sua companhia, do seu apoio silencioso, do seu beijo de manhã - e à noite, e à tarde - eu gosto do seu beijo, enfim. Eu gosto de imaginar como as coisas serão daqui pra frente, já que resolvi ficar com ele do meu lado. Eu gosto dele um monte, saca? Eu acho que a gente tem uma coisa legal - e até o amo por estar comigo assim tão na paz, sem reclamar das minhas loucuras como todo mundo, sem me mandar ficar quieta, sem me chamar de desequilibrada nem nada, que são coisas com as quais me acostumei.
Mas dizer "te amo", ainda que eu ame muitas coisas nele e mais coisas ainda em nós, - como tudo nosso pra mim é muito palpável, como não me enlouquece nem tira meu chão, como eu planejo ficar muito tempo com ele e esse amor de que falam não admite planejamento porque muda de ideia muito rápido - talvez porque o que eu sinto é muito inteiro e real, dizer "te amo", pra mim, seria estragar tudo. Dizer "te amo", pra mim, ainda é coisa pra quem sabe fazer.