quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Pra dizer oi

É claro que tem todo o resto que vem depois.
Mas antes disso tem o começo.
Tem que começar de algum jeito. Tem o primeiro beijo, o primeiro gesto, o primeiro abraço, o primeiro perfume, o primeiro sorriso. Tem o primeiro olhar.
E aí?
E a sensação de que a barriga caiu num buraco e o ar travou na garganta?
E a delícia do medo da imensidão de tudo isso?
E a perna travada no chão que não obedece à vontade de correr e tocar?
E os minutos travados no relógio do tempo todo em volta que faz durar o instante pra sempre?
E os olhares cruzados no meio do caminho que as pernas não fazem?
E o sorriso retido, tão lento e tão dominador de todo o resto?
E a demora da boca que não sabe se cala ou se grita?
E a revolta das mãos que se espremem tentando fazer acordar?
E os abraços suspensos no ar?
E o oi?
O oi, onde fica? Como é que se diz? Cadê as vogais? Como é que se junta? A voz sai por onde? Cadê a coragem? Como é que se faz?
É claro que tem todo o resto que vem depois.
Mas antes disso tem o começo vagando no espaço daquilo que chega na hora.
E fica pra sempre, como se sempre voltasse a acontecer e estivesse acontecendo agora, de novo e de novo...
E está.

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