quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Feliz

É bom isso de alegria.
Parece uma música saindo da alma da gente e dançando em volta de tudo, como casais que dançam valsa em uma festa black tie.
A gente começa a achar que é isso aí mesmo, um dia depois do outro, um dia a gente chega lá.
E não é? Não é assim que as coisas são o tempo todo?
Claro que tem dias que o céu tá escuro demais e o mundo parece um imenso clichê tipo um aeroporto lotado porque não tem teto.
Mas, na maior parte do tempo, não é que eu to sorrindo?!
Na maior parte do tempo, não é que dá pra aguentar sem perceber e viver sem notar?!
Trocar o lençol da cama que vai deixar de ser minha me dá uma felicidade tão plena que eu preciso sorrir.
Acordar passando mal tão cedinho pra ir trabalhar em uma coisa que me desgasta é tão engraçado que só sorrindo.
O banho na água do chuveiro queimado dói tanto na pele que olha... se eu não sorrir...
Sujar os dedos com mostarda não é bom demais?
Chutar a mesinha da sala não faz parte?
E quando a caneta falha, e quando a ligação cai, e quando o trânsito para, e quando o salto quebra, e quando se esquece a chave, e quando a noite é uma droga, e quando o banco tá lotado, e quando o tempo não passa, e quando não tem o shampoo que se quer, e quando a internet pifa, e quando o dinheiro acaba, e quando a sacola rasga, e quando se cai da escada, e quando se pega gripe, e quando se odeia a vizinha, e quando chove na hora de ir pra casa, e quando acaba a luz, e quando se fica em casa em plena sexta à noite, e quando se perde o fio da meada, não é engraçado? Não dá vontade de rir? Não é uma alegria só essa droga toda que a gente chama de vida?
É bom isso de alegria.
Qualquer avião no céu e piada cansada vira um filme.
Parece quando a gente acha a água do mar fria e depois que mergulha descobre que estava perfeita.
Parece que todos os medos da gente sumiram e a gente vai sorrir pra sempre, sempre, sempre.
Assusta, porque a gente tem medo de acabar.
E, porque dá medo, a gente fica esperando o fim, o céu escuro, o aeroporto lotado de gente cansada.
E, porque a gente espera o céu escuro, não consegue gostar do sol.
Mas se isso de alegria é tão bom, será que não vale a pena arriscar a chuva no final?

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