sexta-feira, 9 de julho de 2010

Difícil



Pedi a ele pra anotar o negócio do sussurro no meu ouvido. Não queria correr o risco de ele esquecer e não me dar.
Ele me respondeu bem isso, que não precisava anotar porque tinha passado o dia olhando pro quarto e posicionando umas velas no pé da parede. E que não tinha perigo de esquecer porque aquilo não era uma anotação, era um plano pensado nos mínimos detalhes.
Eu nunca soube fazer planos e não fazia ideia do que seria, no fundo, ter um pensado nos mínimos detalhes, mas gostei da frase e sorri. Na verdade sorri porque fiquei com vergonha, ele me fazia isso o tempo todo.
Ele riu, achando graça. Me puxou pra perto dele e coçou minha cabeça. Não achei tão bom assim... eu ainda queria falar.
Gosto de coisas sexy não vulgares... pensei, alto. Ele disse que achava sexy alguém com a camiseta dele de manhã. E eu ali, louca pra usar a camiseta dele toda manhã pro resto da vida, louca pra usar a vida dele toda manhã tarde e noite até gastar todas as camisetas. Mas ele ainda tinha que dizer que preferia me ver sorrir de vergonha do que qualquer outra coisa que isso pudesse trazer, um dia.
Sem problema. Eu morria de vergonha. Era toda vergonha. Vergonha era o meu nome do meio, e o último. Não era o primeiro porque meu coração de repente estava batendo tão rápido que não me deixava ter primeiro nome. Meu primeiro nome era um intervalo vazio, acho que eu tinha esquecido qual era.
Porque eu já tinha tido experiências o bastante pra conhecer gente que tirava minha roupa com os olhos, sem me tocar. Era constrangedor, mas ele fazia pior. Ele tirava minha roupa só de falar enquanto olhava pela janela, nem pra mim!
Eu me distraía um segundo e lá estava ele, correndo com a minha blusa. Mais uma única frase e eu precisava rápido de um lençol.
Ele pensou, essa louca lê de pé em cima da cama porque diz que fica mais perto da luz!, e sorriu, disfarçando, como se eu não soubesse o que ele estava pensando.
Ele voltou à forra, aproveita pra falar bastante porque já já tua boca vai estar tão perdida na minha que você nem vai se lembrar como usá-la pra outra coisa. Usou o verbo assim, tão bonitinhamente conjugado, que eu tive que quase gritar.
Devolve a minha roupa agora!!!
Ele quase morreu de rir. Eu estava morrendo de sono, queria ver se dormindo eu conseguia pegar minha vida de volta. Tinha saudade dela me incomodando. Ele entortou o sorriso. Vem pegar, vem.
Mas eu não tinha nem ar. Sumiu tudo de dentro de mim de repente. Fiquei comovida com a cena dos dois, tão maduros, rindo sozinhos.
Ele deve ter percebido, porque virou pro outro lado e respirou fundo, enquanto provavelmente pensava em mais alguma coisa pra me levar o lençol. Te levo no meu corpo, não posso dizer que no coração porque você é muito grande pra entrar nele, melhor se encaixar em cada parte, assim toda vez que me olho lembro de você, já te levo dentro, dentro e ao lado.
Pronto.
Precisei de um bilhete pra conseguir dizer alguma coisa. O sono estava me matando e tinha um nó grande e gostoso na minha garganta. Aproveitei a tela do computador, onde eu estava sentada, vamos continuar esse papo na cama? Quise dizer, você aí e eu aqui, calro... *Quis *claro. Aí perdi orumo.
Ele não perdoou, olhou bem pra mim e, rindo da gagueira que me deu de repente, mandou de direita. Foi usar a palavra cama e você errou mais, em duas frases, do que em tudo que escreveu o ano inteiro.
Era pior que isso. Ele levantou da cama e sentou na banqueta, do meu lado. Te adoro um montão. Meus repentinos doze anos só conseguiram responder te adoro o Himalaia. Era a risada dele ecoando de novo. Gosto do jeito que você tem de se expressar. E eu detesto esse jeito que você tem de me desconstruir. Relaxa que ainda faltam 18 minutos pra você se despedir.
E ele me puxou num abraço tão doído daquilo que a gente não conseguia explicar que eu poderia terminar de enlouquecer bem ali.

Um comentário:

  1. Você é a coisa mais gostosa e fofa desse mundo....Heuahuah!!!Me ajuda a descer?Do lustre!!!!

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